O novo mundo WarnerMedia-Discovery
Fusão WarnerMedia-Discovery bagunça o streaming em meses de pouca movimentação.
Salve, turma, beleza?
Textinho vápt-vupt saindo do forno pra falar sobre a reconfiguração do streaming com a fusão de WarnerMedia e Discovery, o primeiro grande assunto da semana dos upfronts da TV estadunidense — ou seja, provavelmente vem mais bomba por aí. Vamos lá!
Neste domingo, o Bloomberg revelou que a AT&T estava negociando com o Discovery para uma possível fusão dos serviços e conteúdos da WarnerMedia. A coisa andou tão rápido que já nesta segunda-feira, às 8h da manhã, a aquisição havia sido formalizada e John Stankey (CEO da AT&T) e David Zaslav (CEO da Discovery Communications) estavam a postos para uma coletiva virtual.
Agora, a WarnerMedia é oficialmente parte da (ou do? Fica a questão) Discovery, e a fusão foi feita através do chamado Reverse Morris Trust, que basicamente permite a transação de subsidiárias sem a cobrança de impostos. A AT&T recebe US$ 43 bilhões, e os seus acionistas mantêm 71% da “nova companhia”. Os outros 29% são da Discovery, Inc.
Zaslav será o CEO que vai encabeçar o projeto (o novo nome será anunciado no fim desta semana ou na semana seguinte), que combina produtos como CNN, TBS, TNT, HGTV, Food Network, Discovery Channel e Warner Bros. studios, além dos streamings HBO Max e Discovery+. Segundo ele, em entrevista à CNBC, a ideia é gastar cerca de US$ 20 bilhões em conteúdo por ano (a Netflix está na casa dos 17), com o potencial de chegar a 400 milhões de lares.
Para o público, isso significa que todos estes produtores de conteúdo, canais e plataformas agora fazem parte da mesma empresa. Em termos de streaming, ainda não está definido se os dois catálogos vão se transformar em uma coisa só ou se haverá algum tipo de pacote com as duas ofertas — algo que tem dado certo com a Disney.
É claro, todas essas fusões tornam o mercado e o conteúdo mais unificados, e isso pode se traduzir em um segmento cada vez mais dominado pelas grandes e difícil para cineastas e produtores independentes. Não é impossível imaginar algum momento do futuro em que existam apenas 3 ou 4 grandes produtoras de conteúdo. Em mercados sem regulamentação, como o brasileiro, que garantias nos restam?
No entanto, estrategicamente a ação faz sentido. Afinal, são duas grandes marcas que não competem diretamente. A WarnerMedia tem experiência em produção de conteúdo premium, enquanto a Discovery é mais especializada em unscripted. Juntando tudo, sim, a nova empreitada consegue ter mais força frente à Netflix e ao Disney+, ainda mais levando em conta o cenário em que todos querem emplacar no streaming e manter o público que era da TV a cabo nesta migração.
Mas nos bastidores a coisa é um pouco mais complicada.
Em 2015, John Stankey orquestrou a compra do DirecTV pela AT&T por US$ 67 bilhões. Em 2016, ele propôs a compra da Time Warner, o que levou o caso à justiça por questões antitruste.
A ação foi encerrada em 2018, e a AT&T gastou mais US$ 85 bilhões para comprar os novos assets. Daí, a dívida de US$ 150 bilhões, que começou a assustar os investidores em 2020 levando em conta que a gigante das telecomunicações não estava lá dando muito certo nesse negócio de entretenimento.
Agora, tudo se desfaz. Em três meses, a AT&T abriu mão do DirecTV (por US$ 8 bilhões) e agora está se afastando dos negócios da WarnerMedia — mais uma reestruturação para o estúdio considerado uma das joias de Hollywood, outra vez com um valor bem menor do que o pago anteriormente.
Enquanto o acordo deve ser totalmente finalizado em 2022, a dança das cadeiras já começa com o atual CEO da WarnerMedia, Jason Kilar, arquitetando a sua saída da empresa junto a uma equipe de advogados, conforme adianta o NY Times.
De acordo com o jornal, Kilar não teria sido comunicado sobre a reconfiguração da WarnerMedia até poucos dias antes do anúncio oficial, e enquanto enviava à sua equipe um memorando que terminava com a frase “Nós conseguimos” e um emoji sorridente [o mais passivo-agressivo de todos os emojis], por trás já está se armando juridicamente para pular fora.
O movimento era esperado. Não apenas porque Zaslav estava cotado para assumir as operações, mas porque Kilar foi pouco foi mencionado em entrevistas e na coletiva da manhã desta segunda. Zaslav afirmou que Kilar seguiria no cargo de CEO da WM, mas dificilmente daria certo ter duas cabeças em comando.
Nos próximos meses, essa dança das cadeiras deve continuar e gerar outras trocas de cargos e funções nos demais conglomerados de mídia. Kilar já foi do Hulu e da Amazon. Portanto, a coisa tende a ficar interessante.
Por enquanto, ainda não há grandes repercussões, mas é de se esperar que uma leva de demissões se siga nos próximos meses. A novidade reforça que a reação negativa à decisão repentina da WarnerMedia de lançar todos os filmes day and date nos cinemas e no streaming em 2021 vem de um fundo de despreparo da companhia ao lidar com conteúdo, algo que ela mesma acaba admitindo com essa transferência de responsabilidade à Discovery.
A Guerra do Streaming trará nos novos desdobramentos do anúncio na edição de sexta-feira. Até lá, você pode enviar dúvidas ou sugestões na caixa de comentários, no e-mail ou lá no Twitter.
Enquanto isso, deixo alguns links com outros conteúdos adicionais para quem quiser se aprofundar no tema:
Do The Hollywood Reporter: David Zaslav sobre WarnerMedia: Relacionamento com os talentos será prioridade. [Em inglês]
Do IGN [EUA]: Dona do HBO Max, WarnerMedia faz fusão com Discovery em acordo de US$ 43 bilhões. [Em inglês]
Da Variety: Acordo AT&T e Discovery levanta questões sobre a expansão global do streaming. [Em inglês]
Do B9: Três anos depois de ser comprada pela AT&T, WarnerMedia é vendida para o Discovery por US$ 43 bilhões. [Em português]
Da AFP, no Splash: WarnerMedia e Discovery anunciam fusão para criar gigante do streaming. [Em português]
Da Variety: David Zaslav vai liderar WarnerMedia-Discovery. [Em inglês, notícia super explicativa do ótimo Brian Steinberg, com direito à tabela abaixo]
E por hoje é isso. Se cuidem e boa semana!
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