Depois de uma noite de quinta-feira em que passamos quatro divertidas horas acompanhando evento da Disney e vendo o mundo se acabar em série do universo Star Wars, dificilmente algum leitor desta newsletter já não está saturado(a) do Mickey Mouse. Mas após um ano inteiro sem qualquer lançamento do Universo Cinematográfico Marvel pela primeira vez desde 2009 (Scorsese, essa é pra você), é claro que a dupla de Bobs (Chapek e Iger) não facilitaria o futuro de suas concorrentes diretas no que se trata de oferecer conteúdo para deixar o público grudadinho nas telas em 2021.
E aqui estamos falando tanto das telas de TVs e celulares quanto telas de cinema. Tá ouvindo, AT&T?
Um milhão de séries do UCM e daquela galáxia muito, muito distante à parte, é impressionante o número de assinantes que as plataformas DTC da Disney acumulam, pouco mais de um ano após o lançamento do Disney+. No relatório do Q4, divulgado no dia 12 de novembro, o serviço acumulava 73,7 milhões de assinantes conquistados até o dia 3 de outubro. No balanço final do ano, o número já saltou para 86,8 milhões, sem nem precisar dos atrativos de audiência mais fortes que chegam a partir de janeiro (WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, por exemplo).
Não que alguém duvidasse do poder de fogo da Disney, mas ver o D+ com números tão expressivos em tão pouco tempo de atuação coloca em perspectiva os 195 milhões de assinantes da Netflix (número que será atualizado em janeiro, com o relatório do Q4), conquistados “de grão em grão” com a construção de catálogo original nos últimos sete anos.
De um lado, o sucesso da Disney no DTC a despeito da baixa quantidade de originais realmente expressivas neste primeiro ano de atuação do Disney+ confirma a força de batalha de um forte catálogo construído por décadas e décadas. The Mandalorian, Hamilton e Mulan podem até ser títulos fortes, mas sem o apoio de uma biblioteca tão extensa que resgata títulos da década de 1930, eles não manteriam um streaming inteiro sozinhos.
De outro lado, o caos do HBO Max prova justamente o oposto: não basta apenas ter uma biblioteca espetacular para dar certo neste mar de tubarões.
Aliás, vamos deixar este assunto do HBO Max para outra hora…
É claro que isso não quer dizer que a Netflix esteja ficando para trás, e sim que ela agora, de fato, tem uma concorrente à altura no campo do streaming, que pode alcançá-la em número de assinantes mais cedo do que prevíamos. E para acompanhar esta batalha da Guerra do Streaming, você provavelmente vai precisar de uma boa TV e um sofá confortável, porque senta que lá vem série.
Vem aí a Disney dos adultos
Um dos anúncios mais esperados do Investor Day era o do Star, prometido streaming da Disney que ocupará o lugar do Hulu em territórios internacionais. A grande surpresa é que trouxa mesmo é só a América Latina, que vai ter que assinar um serviço NOVO, o Star+, enquanto na Europa o Star vai entrar como um 6º selo no catálogo do Disney+ e a assinatura vai aumentar 2 Euros.
O grande diferencial é que, na América Latina, o novo serviço vai incluir transmissões ao vivo de canais de esporte, o que pra mim não faz diferença alguma em 80% do tempo. Mas vai convencer os homens héteros a assinarem mais um streaming, já que no Disney+ essa turma não se liga muito.
Quer dizer, agora que anunciaram 10 novas séries de Star Wars, a coisa muda de figura.
Sim, é frustrante “ter que” assinar outro streaming mas, durante a apresentação, Rebecca Campbell (diretora de operações internacionais e DTC da Disney, a da foto acima) garantiu que o Disney+ e o Star+ serão oferecidos em um pacote a um preço amigável. A empresa calcula que, com esta oferta, o número de assinantes apenas de um dos dois serviços será muito baixo.
Veremos.
Esqueceram de mim
Executivos da Disney passaram quatro horas falando de projetos (entre eles o homem mais inteligente da televisão, John Landgraf), anunciando dezenas e dezenas de projetos que em 98% derivam de propriedades intelectuais já estabelecidas — Encanto (Walt Disney Animation Studios), Win or Lose e Turning Red (Pixar) são algumas das raras exceções entre os projetos de maior destaque —, mas de 20th Century Studios e Searchlight mesmo, quase não se falou. Bob Iger mencionou brevemente que os estúdios irão executar projetos para o Hulu, mas além disso nada foi dito.
Sobre o Hulu, aliás, um alerta feito pela imprensa estadunidense é que há um certo abandono da Walt Disney Co. com a plataforma.
Até fevereiro de 2020, sob Iger, o plano da Disney era expandir o Hulu para mercados internacionais. O caso mudou com o estabelecimento de Chapek como CEO. Em 2024, a Disney precisa pagar pelo menos US$ 5,8 bilhões à Comcast para comprar o 1/3 do Hulu que ainda pertence ao conglomerado. O preço, calculado em 2019, tende a aumentar dependendo do valor de mercado do Hulu. / Leia mais
Ao longo deste ano, vários executivos do Hulu deixaram a casa e a estrutura hierárquica segue bem bagunçada desde então. Kareem Daniel supervisiona as operações a partir de agora, mas criativamente o serviço segue sem um direcionamento. / Leia mais
O que eu penso disso? Baseada apenas nas vozes da minha cabeça, o seguinte:
O homem da questão é John Landgraf — tema para um próximo texto porque esse é o cara.
🔥 The Prom: Ryan Murphy finalmente fez alguma coisa que presta com os US$ 300 milhões que a Netflix botou na mão dele lá em 2018. O filme é a adaptação do musical homônimo da Broadway e é tudo de bom, coração quentinho, músicas chiclete, números lindíssimos e Andrew Rannells sendo absolutamente perfeito junto às minhas amigas pessoais Nicole Kidman e Meryl Streep.
E por hoje é só!