O que acontece depois que você tem um ano recordista?
Poderia ser sobre o BBB, mas é sobre a Netflix
Na última terça-feira (19), a Netflix divulgou o relatório de rendimentos do último trimestre fiscal de 2020 (é isso que queremos dizer quando falamos de Q4), e a consolidação de um ano recorde não chega a ser uma surpresa. Como era previsto, a companhia superou os 200 milhões de assinantes globais, angariando 8,5 milhões de novas assinaturas somente no último trimestre. A título de comparação, no Q3 foram modestos 2,2 milhões de novas assinaturas, mas o boom na reta final do ano era esperado — afinal, são meses em que a Netflix tradicionalmente despeja muito conteúdo, e a resposta, via de regra, é proporcional. No total, 2020 trouxe 37 milhões de novos pagantes para a gigante do streaming, com uma receita de US$ 25 bi (24% a mais que em 2019) e lucro operacional de US$ 4,6 bi (76% a mais que no ano anterior).
Tá, mas chega de números porque isso aqui não é uma newsletter de economia e toda essa grana tá me deixando triste porque tô precisando trocar o meu celular.
É claro que os resultados de um ano tão bem sucedido já despontam cedo na estratégia para 2021, tanto em expectativa quanto em grandiosidade. O impressionante line-up de filmes — pelo menos um por semana até o fim do ano — já dá sinais de expansão. Na quinta-feira (21), o streaming adquiriu a distribuição global (exceto China) da animação ‘Super Conectados’, produzida pela Sony Pictures, e o mercado espera que mais compras sejam feitas ao longo dos meses seguintes. Vale lembrar, aliás, que o Festival de Sundance vai acontecer e começa no próximo dia 28, e é muito provável que a Netflix faça a feira por lá também.
O grande volume de filmes distribuídos pela Netflix tem, sim, uma relação direta com a pandemia, o fechamento das salas de cinema e a redução do circuito, mas as coisas são mais pretensiosas do que isso. No relatório anual do Nielsen Ratings, divulgado no último dia 12, a Netflix dominou os rankings das séries mais assistidas (tanto em conteúdo original quanto em adquirido), mas o Disney Plus foi arrebatador no top 10 de filmes. Que a Disney tem os longas mais assistidos não deveria chegar a ser uma surpresa (afinal, produzir blockbusters de arrasar quarteirões é sua especialidade), mas é interessante observar que o Mickey Mouse venceu essa contando basicamente com filmes não-inéditos (estamos falando de ‘Moana’, ‘Frozen II’, ‘Toy Story 4’, ‘Zootopia’, e o único original Disney Plus é ‘Hamilton’, já que ‘Soul’ sequer teve tempo de entrar para o ranking). O único produto Netflix da lista foi o longa de ação ‘Troco em Dobro’, protagonizado por Mark Wahlberg.
A dinâmica, então, é inversa. Observando os dados divulgados pelo instituto, dá para concluir que o público, em geral, pensa em Netflix para séries e Disney Plus para filmes.
E é claro que a Netflix não está muito interessada em dividir essa atenção. Por isso, o megalomaníaco anúncio dos filmes de 2021 soa mais pontual do que nunca.
Durante a sessão de perguntas e respostas da divulgação dos resultados do Q4, Reed Hastings citou a concorrência do Disney Plus nominalmente — uma espécie de elogio aos 87 milhões de assinantes conquistados em 2020 está presente na carta aos acionistas —, dizendo que é ótimo poder contar com essa concorrência:
As pessoas estão dispostas a pagar por bom entretenimento. Vai ser incrível para o mundo ver a Netflix e o Disney+ concorrendo, série por série, filme por filme. Queremos alcançá-los em animação e quem sabe superá-los.
Esta fala de Hastings parece uma resposta direta ao relatório do Nielsen, e também ajuda a entender que a Netflix talvez esteja partindo para um segundo momento em que, já tendo consolidado a sua força nas produções seriadas, busca agora provar o seu valor junto à indústria do cinema. Se o objetivo é dominar o mundo, então, é necessário fazê-lo por completo.
Em retrospecto, correr atrás do ouro parece uma tarefa mais difícil para o streaming com os filmes do que com os produtos seriados, até mesmo porque a barreira da janela comercial de exibição sempre foi um problema que a empresa pareceu incapaz de solucionar por completo — muitas das barreiras na temporada de premiações, aliás, vêm dali.
O fato de a Universal e a Warner terem conseguido remanejar esse debate de uma forma favorável a elas pode render bons frutos para a Netflix em um futuro próximo, mas também há de se questionar a resistência de se encontrar um meio termo que funcione entre a indústria tradicional e a revolução do VOD.
De qualquer forma, os próximos meses serão decisivos para entendermos como o mercado vai se reconfigurar no pós-pandemia. Veremos os lançamentos multiplataforma da Warner começarem a ocorrer de fato e, eventualmente, começaremos a falar das premiações dos Sindicatos e do Oscar 2021. Aí, entenderemos como a indústria reage aos originais Netflix da temporada diante de um cenário tão incomum.
Mas, no geral, sempre vejo com certo receio a ação que vem após momentos de grande êxito comercial ou de audiência. Expectativas altíssimas para o BBB21 e para a Netflix 2021, depois de edições tão bem sucedidas no fatídico 2020, podem frustrar os espectadores, os acionistas e a indústria em geral que conta muito com um sucesso que pode não vir. Quais as chances
Quanto a mim, só quero voltar a frequentar o cinema. O ano passado foi o ano em que menos vi filmes provavelmente desde que nasci.
Nesta semana, a ViacomCBS anunciou a data de lançamento do Paramount Plus nos Estados Unidos e na América Latina: 4 de março. O único porém é que, bem, se você pesquisar aí, vai descobrir que já existe um Paramount Plus no Brasil. O ‘novo’ Paramount Plus é na verdade o rebranding e a expansão do CBS All Access. Com o relançamento, o streaming terá hubs dedicados de conteúdo para propriedades como Nickelodeon, MTV e Comedy Central, e entre as novas produções originais teremos a série limitada ‘The Offer’, adaptando a experiência do produtor Al Ruddy nos bastidores de ‘O Poderoso Chefão’. A versão que existe no Brasil do serviço é associada aos pacotes de TV por assinatura ou acessível pelo Prime Channels, e deverá ser atualizado com assinatura independente e novos produtos a partir de março.
Sem largar o osso, a HBO já está de olho em novas adaptações de ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’. Segundo a Variety, uma delas é ‘O Cavaleiro dos Sete Reinos’, em fases iniciais de desenvolvimento. James Hibberd conta que isso não é tudo e a emissora também cogita uma série sobre A Rebelião de Robert, com vários escritores dando pitchings diferentes baseados na obra de Martin. O autor havia escrito em seu blog, em 2017, que não haveria uma adaptação da Rebelião de Robert, por ser desnecessária, nem dos contos de Dunk & Egg, porque ele só havia escrito e publicado três contos e queria fazer mais sete, ou oito, ou dez — e não gostaria que acontecesse o mesmo que com Game of Thrones. Bem, ainda há apenas três publicados…
Será que o Martin tem novas histórias de Dunk & Egg prontas pra publicar ou deu algum b.o. entre ele e a HBO? Ou ele simplesmente mudou de ideia?O fato é que todo streaming quer uma franquia pra chamar de sua e a WarnerMedia até tem outras (DC, Harry Potter), mas essa daqui é a que está menos desgastada, apesar de ter traumatizado meio mundo com aquele final horroroso da série.
Aparentemente, a Disney quer produzir no Brasil mas só em parceria com a Globo, pra não “arriscar” com produtoras independentes. Muito bom, nota zero pra falta de regulamentação que deixa essas coisas acontecerem. Aliás, fala-se também de uma estratégia da Globo de minar a produção nacional da Netflix contratando os talentos das séries e forçando cancelamento. Ambas carecem de confirmações, então que fique no campo da especulação, mas quanta baixaria.
🔥 Faz de Conta que NY é uma Cidade: Martin Scorsese e Fran Lebowitz nesta série documental em que ela narra a sua visão de Nova York com comentários bem sarcásticos sobre comportamento e a relação das pessoas com o local em que vivem. Vale pra te deixar com saudades de NY se você conhece a cidade, mas também vale como uma reflexão e gostosas gargalhadas se você não conhece. E o Scorsese rindo das coisas que ela fala é a melhor coisa desse mundo.
❄️Fate: A Saga Winx: Não tenho tempo pra ver outra ‘Riverdale’, Netflix, porque vocês cancelaram a Riverdale que eu gostava, que era Sabrina.