Todo ano acontece no México a MIP Cancun, um evento destinado a empresas que produzem conteúdo audiovisual na América Latina e para o público espanhol dos Estados Unidos. Na edição de 2020, online, a entrada dos novos serviços de streaming nos países latinos foi o grande tema, com a promessa de investimento em conteúdo local tanto do Disney+ quanto do HBO Max.
O que a Disney diz
No evento, que foi de 17 a 20 de novembro, o Disney+ divulgou que já tem 70 programas originais em desenvolvimento na América Latina, sendo que os principais mercados são Brasil, Argentina, México e Colômbia.
O chefe de operações e estratégia da companhia na América Latina, Leonardo Aranguibel, explicou que a Disney opera sob três pilares de produção: entretenimento geral (para adultos); família, crianças e jovens adultos ; e entretenimento factual (pense em documentários e produções do NatGeo). São nessas frentes que o streaming visa criar conteúdo dentro do mercado local.
“A Disney tem um catálogo espetacular, e estamos orgulhosos dele, mas vamos aumentar a quantidade de original, especialmente com conteúdo da América Latina”, explicou Cecilia Mendonça, diretora de desenvolvimento de conteúdo. “As pessoas querem programas que representem quem elas são e suas culturas.”
Na prática, isso significa que o Disney Plus visa trabalhar de forma colaborativa com produtores e roteiristas locais, e Aranguibel lembra que, embora já tenha alguns contratos fechados nos principais mercados Latam, a empresa está disposta a expandir o trabalho com outras produtoras e criadores.
“Vamos gerar mais conteúdo, então precisaremos trabalhar com mais pessoas. Estamos abertos para trabalhar com outras empresas, autores, sempre com a ideia de que temos a posse da propriedade intelectual. Queremos trabalhar com talentos de toda a região “, concluiu.
O que o HBO Max diz
O texto da semana passada explica de forma detalhada o grande problema que o HBO Max enfrenta no mercado estadunidense até o momento, e a conclusão é que a WarnerMedia aposta pesado na propriedade intelectual da DC para alavancar assinaturas. Mas se você, assim como eu, gostaria que o Bruce Wayne fizesse uma terapia e largasse a gente em paz, temos notícias interessantes.
O HBO Max tem estreia prevista para o 1º semestre de 2021 na América Latina, e já desenvolve cerca de 50 projetos originais na região, adiantou Marcelo Tamburri, VP de ficção de WarnerMedia, HBO e HBO Max no México. Segundo ele, 8 ou 9 originais já estão em pós-produção e quase prontos para verem a luz do dia, enquanto outros estão em várias etapas diferentes: alguns em pré, outros com as filmagens interrompidas, outros em estágios iniciais de desenvolvimento. Em todos eles, as equipes de HBO, Turner e Warner trabalham juntas.
“Queremos transformar a plataforma em uma das mais relevantes da região e do mundo”, afirmou Tiburri. “É a experiência conjunta das três marcas que nos permite buscar a consolidação de nosso próprio estilo. A qualidade não está em discussão, porque ela é uma constante.”
O executivo explicou que trabalha com equipes de desenvolvimento nos mesmos mercado em que a Disney já investe (Brasil, México, Argentina e Colômbia), por serem os pontos fortes de ficção. “O México tem um plus, já que seu produto pode tranquilamente migrar para a região latina dos Estados Unidos, e isso faz diferença na hora de tomar decisões. Trabalhamos com as produtoras mais importantes da região”, finalizou.
Porém…
Não, é claro que nem tudo são flores. Apesar de haver o investimento de produções locais, a regulamentação falha dos serviços de distribuição de conteúdo por internet faz com que as empresas deixem de aplicar capital no crescimento do audiovisual brasileiro da mesma forma que a lei prevê que as companhias de distribuição linear (ou seja, a TV) façam. Se no México já existe um pacote de lei que impõe para os serviços de streaming as mesmas leis da TV paga, por exemplo, a ausência dessa mesma obrigatoriedade no Brasil faz com que as produções fiquem em um círculo vicioso que não gera investimento para as produções independentes.
Por isso, é importante olhar para o movimento com cautela, enxergando suas contradições. Se, por um lado, o aumento da produção audiovisual que vem com os streamings gera emprego e renda, a falta de regulamentação também provoca uma desvalorização do profissional local exatamente por operar por fora de um sistema que já está regularizado há anos. / Saiba mais no vídeo:
Em entrevista concedida a Daniela Geisler para o livro “Estado, Mercado e Cinema: A regulação da Condecine sobre o Video on Demand”, o gestor de políticas culturais Alfredo Manevy afirma:
“Já passou do tempo, perdemos o timing da regulação do VoD. Deveria ter sido feito há 3 anos. Mas o governo Temer, depois do impeachment, criou uma relação preferencial de bajulação às empresas norte-americanas, ao invés de defender o interesse do Brasil e das produtoras brasileiras. Ele ficou buscando simpatia e aproximação com grandes players americanos, não regulou, inclusive se manifestou contra a regulação, e conseguiu retardar esse processo até hoje. […] No momento em que o mercado se estabelece, se consolida, é muito difícil conseguir regular. Porque os privilégios viram direitos adquiridos, o empresário não quer pagar mais imposto, entende que ele adquiriu o direito de estar isento e passa a tratar aquela situação de desregulamentação como a norma.”
Aliás, já fica a dica do livro. De graça no Kindle Unlimited.
🔥 folklore: the long pond studio sessions: eu não sei exatamente quando foi que eu me tornei fã da Taylor Swift, mas foi em algum momento entre o 1989 e o reputation. O folklore é o álbum mais amadurecido da loirinha até agora e esse documentário que estreou na quarta-feira meio de surpresa no Disney+ é a quantidade exata de conforto pra fazer você se sentir enrolada(o) num cobertor quentinho durante uma tarde fria e com aquela vontade de tomar vinho na varanda com os amigos.
❄️ Shawn Mendes: In Wonder: meu amigo Edu Sacer comentou no Twitter que esse documentário é tão vazio como um biscoito de polvilho e eu não encontrei definição melhor. Picolé de chuchu. Chato e desinteressante que nem seu objeto de estudo. Que história incrível Shawn Mendes tem pra contar num documentário? Nenhuma. Evite.